Mesmo com aluguel de novas embarcações mais modernas e rápidas,
barcas com seis décadas de funcionamento continuarão a fazer o
transporte na baía
Falta aproximadamente um mês e meio para que as novas embarcações
alugadas pela concessionária CCR Barcas cheguem ao Brasil. Mas mesmo
com o entusiasmo de reforçar a frota, a empresa informou que catamarãs
mais antigos não serão retirados de circulação. É o caso das embarcações
Itaipu e Lagoa. Desde o ano de 1952, antes de existir a Companhia de
Navegação do Estado (Conerj), que era responsável pelo sistema
aquaviário em 1977, elas já percorriam a Baía de Guanabara.Em seis décadas de travessias, a embarcação Itaipu, por exemplo, já apresentou diversas panes ao longo dos anos. A mais recente foi em agosto, quando chegou a ficar à deriva por uma hora em plena Baía de Guanabara, deixando centenas de tripulantes angustiados. Mesmo assim, segue em frente fazendo viagens todos os dias, levando passageiros da Praça XV até a estação da Ilha de Paquetá.
Essas duas barcas prestam serviços para a empresa, que já passou por três administrações diferentes ao longo de 35 anos de existência. Mas até agora ninguém fala de “aposentadoria” para as embarcações.
Frota – A nova concessionária CCR Barcas - que administra o transporte aquaviário fluminense desde julho deste ano - informa que um acordo foi feito com o Governo do Estado para a compra de mais nove embarcações; passando de 19 para 30. O objetivo, segundo a assessoria de imprensa da concessionária, é aumentar o número de assentos para passageiros e melhorar a rapidez entre os intervalos de uma barca e outra. No mínimo 1.009 lugares serão ampliados com a chegada dessas duas novas embarcações que estão vindo de Hong Kong.
A empresa que administra o transporte aquaviário, no entanto, ainda não possui uma confirmação se as novas barcas farão o percurso entre a Praça XV- Paquetá ou Praça XV- Cocotá, numa tentativa de melhorar o percurso que atualmente - com as barcas antigas - chega a demorar mais de uma hora.
Viagem – Moradora há 50 anos da Ilha de Paquetá, Maria Hilda dos Santos, aposentada de 68 anos, diz que todos os dias pega a barca para o Rio de Janeiro, e informa que constantemente as embarcações mais antigas apresentam defeitos e atrasos.
“Desde sempre uso a barca para ir ao Rio. É o único transporte que temos para fazer essa travessia. Mas todos os dias são colocadas barcas antigas para fazer o trajeto e elas não têm o mesmo conforto das modernas. Constantemente pego as barcas que volta e meia apresentam atrasos, às vezes de mais de meia hora. Também temos compromissos e acho que há necessidade urgente de uma troca das embarcações antigas por outras mais modernas”, avalia a aposentada, que sempre pega as embarcações nos horários de pico. Às 7h e às 17h45.
Estudo – Segundo o deputado estadual Gilberto Palmares (PT), que presidiu a CPI das barcas, a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) encomendou estudo a professores da Coppe/UFRJ. Através de dados da Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (Fapeu), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foi diagnosticado que os modos de gerenciamento das embarcações estão fora dos padrões internacionais. Ou seja, cada embarcação possui vida útil de no máximo 30 anos, mas na prática, esse regulamento não estaria sendo seguido pela empresa.
Segundo o deputado Gilberto Palmares, das 19 embarcações da concessionária, 10 têm mais de 30 anos. Esse não cumprimento de regras seria um dos fatores que causam transtornos à população, já que além de se gastar mais com a manutenção, o gasto com combustível é maior, e ainda por cima, as embarcações não são tão velozes quanto as novas, causando mais lentidão na prestação do serviço.
“Com esse estudo da Coppe percebemos que atualmente 200 homens trabalham na manutenção destas 19 barcas. Dividindo 200 por 19, temos um total aproximado de dez homens para fazer a manutenção de cada embarcação. Isso não está correto, está fora dos padrões internacionais. O certo seria de quatro a cinco homens para fazer a manutenção em cada embarcação. Mas como elas quebram várias vezes, em pontos diferentes, a empresa acaba colocando um número maior de funcionários para fazer a manutenção, gastando muito mais. Esse gasto poderia ser investido em outras embarcações, mas acaba sendo usado para fazer reparos”, avalia o deputado.
A CCR Barcas, através de sua assessoria de imprensa, argumenta que todas as barcas tradicionais foram reformadas e passam por um rigoroso programa de manutenção.
Sobre o gasto com o combustível das embarcações antigas, o diesel marítimo, a concessionária argumenta que varia, dependendo do tipo de embarcação e do trajeto.
Tarifa – Atualmente o valor cobrado pela concessionária é de R$ 4,50 para as quatro linhas: Praça XV- Niterói, Paquetá, Cocotá, Mangaratiba e Angra dos Reis. Há um desconto para todas as linhas de R$ 3,10 para quem utiliza o bilhete único, exceto na linha seletiva de Charitas, onde a tarifa cobrada é de R$ 12.
O Fluminense
Fonte: http://www.ofluminense.com.br/editorias/cidades/aposentadoria-de-antigas-barcas-ainda-esta-longe