O relatório encomendado pela Agência Reguladora de Transportes do Estado do Rio (Agetransp) à Universidade Federal de Santa Catarina sobre Revisão Tarifária da Barcas S.A. mostra que a concessionária faz dupla cobrança de alguns itens ao calcular o preço da passagem. Neste sábado entra em vigor o novo valor, de R$ 4,50, que representa um aumento de 60,7%.

O estudo técnico sugere que a empresa exclua da fórmula tarifária os custos da ‘renovação e ampliação da frota’, já que os gastos com estes quesitos já estão embutidos em outros, como ‘depreciação, aumento das receitas e ganhos de escala’. Na página 109 do documento, o tópico ‘Críticas e Sugestões’ diz, entre outras coisas, que “não cabe a inclusão de valor nas tarifas para expansão da frota porque (...) os mecanismos contábeis e financeiros existentes e em uso já seriam suficientes para assegurar o financiamento e remuneração da expansão”.

Pedro Pedroza fará o Bilhete Único para fugir do ‘assalto’: ‘Eles fazem o que querem´ | Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia
Pedro Pedroza fará o Bilhete Único para fugir do ‘assalto’: ‘Eles fazem o que querem´ | Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia
Se a Barcas retirar esses custos do cálculo, algumas passagens chegariam a redução de até 50%, como Mangaratiba-Abraão. No caso de Rio-Niterói, o impacto não seria sentido devido ao volume de passageiros. Mas a sugestão do estudo é que a tarifa ficasse em R$ 3,18, como mostrou nesta sexta-feira O DIA. Procuradas, a Agetransp e a Barcas S.A. não comentaram.

A Secretaria Estadual de Transportes informou que, pelos princípios da “modicidade tarifária e da solidariedade social”, acolheu recomendação de unificar as tarifas, o que acarretou o maior aumento da Rio-Niterói.

Na segunda, o Ministério Público de Niterói vai cobrar do governo explicação para o aumento. No mesmo dia, deputados do PSOL vão ao Tribunal de Justiça questionar liminar que prevê multa para o partido e militante contra o aumento da tarifa.
 
R$ 782 a mais em um ano

A diferença cobrada pela Barcas a partir de hoje vai pesar no bolso de quem usa o serviço. Em um ano com 230 dias úteis, o passageiro gastará R$ 782 a mais com transporte de ida e volta. Isso, se pagar os R$ 4,50 da tarifa cheia. Se tiver o Bilhete Único, o preço cai para R$ 3,10, mas ainda assim representa um gasto a mais: R$ 138 além da antiga conta de R$ 1.288.

Maria Eduarda e Raphael insinuam uma travessia a nado para escapar do alto preço da tarifa | Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia
Maria Eduarda e Raphael insinuam uma travessia a nado para escapar do alto preço da tarifa | Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia
“Por não terem concorrência, fazem o que bem querem com a gente”, indignou-se o consultor de sistemas Pedro Pedroza, 30. “Vou acabar fazendo o Bilhete Único para fugir desse assalto”.

“Meu lazer acaba prejudicado. É o dinheiro do jantar, do cinema”, disse o estudante Pedro Ernesto, 22, que recebe no estágio R$ 105 de ajuda de custo e terá de inteirar R$ 25 a cada mês. Opinião semelhante tem a advogada Rosa Menezes, 34: “Faz diferença até na compra do mercado”.

Os usuários reclamam que os serviços não condizem com o reajuste. “Não tem ar, não tem organização. É só fila e confusão. Daqui a pouco teremos que vir trabalhar nadando”, ironizou o auxiliar de cartório Raphael Muniz, 29.
 
Integração trem-metrô mais cara

A partir desta segunda-feira, a integração entre metrô e trens da SuperVia será feita apenas com Bilhete Único. No novo sistema, o preço também foi reajustado, passando dos R$ 4,20 com o bilhete de papel para R$ 4,95.

Segundo o Metrô Rio, porém, o novo valor ainda é uma tarifa promocional, representando desconto de R$ 1,05. Isso porque, se somadas as tarifas dos dois modais — R$ 3,10 do metrô e R$ 2,90 da SuperVia — o valor final a ser desembolsado seria de R$ 6.


Fonte: http://odia.ig.com.br/portal/rio/relat%C3%B3rio-aponta-novo-c%C3%A1lculo-de-tarifa-da-barca-1.414867