Por: Julianna Prado 11/11/2012
Mesmo com aluguel de novas embarcações mais modernas e rápidas,
barcas com seis décadas de funcionamento continuarão a fazer o
transporte na baía
Falta aproximadamente um mês e meio para que as novas embarcações
alugadas pela concessionária CCR Barcas cheguem ao Brasil. Mas mesmo
com o entusiasmo de reforçar a frota, a empresa informou que catamarãs
mais antigos não serão retirados de circulação. É o caso das embarcações
Itaipu e Lagoa. Desde o ano de 1952, antes de existir a Companhia de
Navegação do Estado (Conerj), que era responsável pelo sistema
aquaviário em 1977, elas já percorriam a Baía de Guanabara.
Em seis décadas de travessias, a embarcação Itaipu, por exemplo, já
apresentou diversas panes ao longo dos anos. A mais recente foi em
agosto, quando chegou a ficar à deriva por uma hora em plena Baía de
Guanabara, deixando centenas de tripulantes angustiados. Mesmo assim,
segue em frente fazendo viagens todos os dias, levando passageiros da
Praça XV até a estação da Ilha de Paquetá.
Essas duas barcas prestam serviços para a empresa, que já passou por
três administrações diferentes ao longo de 35 anos de existência. Mas
até agora ninguém fala de “aposentadoria” para as embarcações.
Frota – A nova concessionária CCR Barcas - que
administra o transporte aquaviário fluminense desde julho deste ano -
informa que um acordo foi feito com o Governo do Estado para a compra de
mais nove embarcações; passando de 19 para 30. O objetivo, segundo a
assessoria de imprensa da concessionária, é aumentar o número de
assentos para passageiros e melhorar a rapidez entre os intervalos de
uma barca e outra. No mínimo 1.009 lugares serão ampliados com a chegada
dessas duas novas embarcações que estão vindo de Hong Kong.
A empresa que administra o transporte aquaviário, no entanto, ainda
não possui uma confirmação se as novas barcas farão o percurso entre a
Praça XV- Paquetá ou Praça XV- Cocotá, numa tentativa de melhorar o
percurso que atualmente - com as barcas antigas - chega a demorar mais
de uma hora.
Viagem – Moradora há 50 anos da Ilha de Paquetá,
Maria Hilda dos Santos, aposentada de 68 anos, diz que todos os dias
pega a barca para o Rio de Janeiro, e informa que constantemente as
embarcações mais antigas apresentam defeitos e atrasos.
“Desde sempre uso a barca para ir ao Rio. É o único transporte que
temos para fazer essa travessia. Mas todos os dias são colocadas barcas
antigas para fazer o trajeto e elas não têm o mesmo conforto das
modernas. Constantemente pego as barcas que volta e meia apresentam
atrasos, às vezes de mais de meia hora. Também temos compromissos e acho
que há necessidade urgente de uma troca das embarcações antigas por
outras mais modernas”, avalia a aposentada, que sempre pega as
embarcações nos horários de pico. Às 7h e às 17h45.
Estudo – Segundo o deputado estadual Gilberto
Palmares (PT), que presidiu a CPI das barcas, a Assembleia Legislativa
do Rio (Alerj) encomendou estudo a professores da Coppe/UFRJ. Através de
dados da Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária
(Fapeu), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foi
diagnosticado que os modos de gerenciamento das embarcações estão fora
dos padrões internacionais. Ou seja, cada embarcação possui vida útil de
no máximo 30 anos, mas na prática, esse regulamento não estaria sendo
seguido pela empresa.
Segundo o deputado Gilberto Palmares, das 19 embarcações da
concessionária, 10 têm mais de 30 anos. Esse não cumprimento de regras
seria um dos fatores que causam transtornos à população, já que além de
se gastar mais com a manutenção, o gasto com combustível é maior, e
ainda por cima, as embarcações não são tão velozes quanto as novas,
causando mais lentidão na prestação do serviço.
“Com esse estudo da Coppe percebemos que atualmente 200 homens
trabalham na manutenção destas 19 barcas. Dividindo 200 por 19, temos um
total aproximado de dez homens para fazer a manutenção de cada
embarcação. Isso não está correto, está fora dos padrões internacionais.
O certo seria de quatro a cinco homens para fazer a manutenção em cada
embarcação. Mas como elas quebram várias vezes, em pontos diferentes, a
empresa acaba colocando um número maior de funcionários para fazer a
manutenção, gastando muito mais. Esse gasto poderia ser investido em
outras embarcações, mas acaba sendo usado para fazer reparos”, avalia o
deputado.
A CCR Barcas, através de sua assessoria de imprensa, argumenta que
todas as barcas tradicionais foram reformadas e passam por um rigoroso
programa de manutenção.
Sobre o gasto com o combustível das embarcações antigas, o diesel
marítimo, a concessionária argumenta que varia, dependendo do tipo de
embarcação e do trajeto.
Tarifa – Atualmente o valor cobrado pela
concessionária é de R$ 4,50 para as quatro linhas: Praça XV- Niterói,
Paquetá, Cocotá, Mangaratiba e Angra dos Reis. Há um desconto para todas
as linhas de R$ 3,10 para quem utiliza o bilhete único, exceto na linha
seletiva de Charitas, onde a tarifa cobrada é de R$ 12.
O Fluminense
Fonte: http://www.ofluminense.com.br/editorias/cidades/aposentadoria-de-antigas-barcas-ainda-esta-longe